Ih, casei. Não, peraí. Será?
Faz um
tempo ja que eu concluí que casamento propriamente dito, no papel passado,
perante 10 ou 300 testemunhas, vestido de noiva, padre, igreja, choradeira de
mãe no altar, flores, buffet, festa, aliança e todo o resto não faz parte do
meu destino. Deus ou sei lá eu quem não colocou esse evento na minha timeline.
Fazer o que, né? Só tive que me conformar e aceitar porque como dizem, dói menos.
Tentei
casar uma vez, quando era bem jovenzinha e completamente desmiolada. Tinha data
marcada, salão alugado, buffet contratado, igreja reservada, só faltava o
vestido de noiva e os convites. Uns 4 meses antes da bôda o noivo, no seu
momento de lucidez máxima na vida, terminou o relacionamento comigo. Fui
praticamente abandonada na porta da igreja.
Ih, ferrou
Passados
alguns poucos anos desse episódio, tentei casar de novo. Tinha noivo, tinha
data, só faltava organizar o “evento”.
Como isso aconteceu há bastante tempo, não lembro bem qual foi o motivo
que abatumou meus planos de me vestir de noiva e entrar de braço dado aos
prantos com meu pai na catedral da cidade onde nasci. Não teve casamento nenhum,
o que confesso, foi ótimo. Um tempo depois, num lampejo de lucidez máxima da
minha vida, terminei com o meu futuro marido.
Daí que na
sequência comecei a namorar um outro cara que desde a primeira vez em que
saímos despretensiosamente pra tomar uma cerveja e conversar, sempre deixou bem
explícito e claro que ele não queria casar e nem queria filhos. Não dei bola e
no auge da minha ingenuidade e paixonite achei que ele fosse mudar de ideia. Me
enganei, obviamente, e ele manteve a postura firme até o fim, 6 anos depois.
Me
resignei, aceitei o fato de que casar realmente não está no meu destino traçado
nas estrelas e desisti do assunto. Toquei minha vida, tive alguns
relacionamentos legais, conheci muita gente interessante até que vim morar na
Austrália. E um pouco depois que cheguei aqui, conheci um australiano. Papo
vai, papo vem, e a gente começou a ficar. Dois meses depois, resolvemos dar
nome aos bois, passamos a ser namorados e estávamos muito tranquilos em relação
à isso, ja que não tínhamos pretensão alguma de casar. Morar junto ja seria o
suficiente.
Acontece
que daí veio a vida, essa garotinha marota, e por uma circunstância alheia aos
nossos planos, nos forçou a dar o próximo passo. Mas calma lá, o passo não foi
tão grande assim. Não tô falando que casar definitivamente não está na minha
linha da vida? Decidimos apenas registrar a nossa união estável e munidos de
toda a papelada exigida, nos encontramos numa linda e fria manhã de sexta-feira
para irmos até a repartição pública australiana onde se fazem os devidos
trâmites legais pra reconhecer um relacionamento. Não teve glamour algum, eu
inclusive cheguei ao local sozinha, de ônibus.
Eu no ônibus indo pro meu "casamento"
Preenchemos
um formulário, entregamos os documentos que nos pediram, assinamos outro e 5
minutos depois fomos embora. E foi aí que começou a confusão na minha cabeça.
Como devo me referir à esta pessoa que divide a cama, as contas, as alegrias e
as tristezas, a saúde e a doença comigo? Como devo apresentá-lo aos meus amigos
e familiares? “Esse é fulano, meu namorado”? Não, ele não é mais meu namorado.
Quem sabe então “esse é fulano, meu marido”? Mas ele também não é meu esposo,
afinal, eu não casei, só registrei a nossa união estável. Chamá-lo de meu companheiro
é genérico e essa palavra me remete aos filmes de mafiosos. Nominá-lo como meu
parceiro é mais genérico ainda. Parceiro pode ser de negócio, do futebolzinho
do domingo, da cervejinha de sexta, de qualquer coisa. E aí, como faz?
Depois de
quebrar a cabeça e conversar com um e com outro à respeito do assunto, percebi
que isso é bobagem. Pouco importa a maneira como iremos nos nomear. Conheço
vários casais que juraram amor eterno na frente do padre, dos convidados e
claro, do Facebook, assinaram o papel e sorriram pras fotos, e não honram o título
e o compromisso de serem marido e mulher. Casar vai muito além da certidão, do
vestido de noiva, da festa, do buffet, das flores, da choradeira da mãe no
altar, do padre e da aliança na mão esquerda. Isso tudo é só um ritual de
passagem.
Casar, no
meu entendimento, tem a ver com companheirismo, com admiração, com respeito,
com desejo, com vontade de fazer acontecer mesmo quando as condições não são
favoráveis. Casar, na minha percepção, tem a ver com cuidado, com amizade, com
maturidade pra perceber que não dá pra confiar na paixão porque um dia ela
acaba. Tem a ver com confiança e construção. Tem a ver com altruísmo, com
liberdade.
Pois bem. A
partir de agora eu sou casada.
8 comentários
Luzinha, acho que a nossa geração optou por isto. Poucos ainda têm este sonho de casar na igreja, com trocentos convidados e tal. Respeito, lógico,mas também não é meu sonho. Casado é quem bem vive e não é um papel que vai dizer que seremos ou não felizes, é o dia a dia, o respeito, a convivência e, com certeza, o sentimento verdadeiro. Quando meu filho nasceu, depois de oito anos de relacionamento, fizemos um contrato de união estável. Sem festa, sem evento. Mas felizmente está dando certo e lá se vão 17 anos de vida juntos. Nem todos os dias são maravilhosos, somos seres humanos, cheios de virtudes e defeitos. Que tu sejas muito, muito feliz. Cada dia mais.
ResponderExcluirBeijos.
Edna querida!
ExcluirConcordo 100% com a frase "casado é que bem vive". Convenções, documentos, ritos de passagem, isso tudo não faz um casamento. O que faz é o dia-a-dia, é a vontade de permanecer unido quando tudo conspira contra.
Fico muito feliz por saber que teu casamento ja dura tudo isso. 17 anos juntos, nesse mundo líquido e efêmero, não é pra qualquer casal. Parabéns!! Que vocês sigam cada vez mais juntos, firmes, fortes e sempre felizes por terem um ao outro.
Grande beijo
Beleza voltar a ler teus escritos, e agora com novidades e movimento na vida pessoal. Parabéns!!! Desejo vida longa ao casal...tim tim
ResponderExcluirConcordo que casamento é uma relação de afetos que compreende muita disponibilidade interna,transcende o amor que dê tão abstrato aparece no cuidado,no respeito,no bom senso e na amorosidade em aceitar as imperfeições que nos tornamos humanos.
Nunca fostes comum,por isso te admiro e torço por ti.
Lembrete essencial, nunca abandonei teu projeto de vida pessoal independente do projeto de vida compartilhado.
Beijo grande, Narinha
Narinha querida!!
ExcluirQue honra a minha te ter como leitora e como fã. Tu é uma das mulheres referência da minha vida, a quem admiro muito e de quem sinto uma baita saudade.
Obrigada por tanto carinho :-)
Um beijo bem grande e um abraço de urso pra ti
Demais o texto Luzinha! Fico muito feliz por esse passo importante, seja lá como for nomeado �� Que tu seja cada dia mais feliz e que tenha mais realizações na tua vida. Sem nunca perder a irreverência pra gente seguir acompanhando e dando risadas juntas. Muito amor ao casal hoje e sempre ❤️ Beijos ��
ResponderExcluirSheila querida, obrigada :-)
ResponderExcluirQue os anjos digam amém e que tenhamos todos muita felicidade e realizações nessa vida.
E pode deixar que eu posso perder tudo, menos a irreverência. Hahahahaha!!
Grande beijo pra ti e pra tua família, obrigada pelo carinho
Meu sonho é encontrar um cara legal para casar.. legal sua história!
ResponderExcluirOi, Aline
ExcluirOlha, vou te contar uma coisa: eu também sempre quis encontrar um cara legal pra "casar" e até isso acontecer, minha amiga, cruzei com muita chave de cadeia.
Daí um dia decidi que ia parar de "me divertir com os errados até achar o certo"e simplesmente desencanei do assunto e fui cuidar de mim. Mas eu rezava todas as noites pras minhas entidades e pedia: eu quero um cara assim, assim, assado (eu tinha uma listinha de 5 atributos que pra mim eram indispensáveis. O resto eu tava disposta a fazer vista grossa).
Pois um belo dia, um cara alto, de olhos claros, todo sujo, entrou no restaurante onde eu era garçonete. Quando vi ele pela primeira vez, senti uma coisa diferente. E comentei com uma amiga: hummm... esse cara é charming, só precisa de um bom banho. Estamos juntos até hoje.
Então, Aline, faz uma listinha de como tu quer que esse cara legal pra casar seja. Coloca 5 atributos indispensáveis que tu não abre mão e pede pro Universo que ele vai te entregar.
E depois vem aqui me contar, ta?
Beijo e obrigada pela mensagem