Refugiada: eu também sou
"The only thing harder than loosing home is trying to find it again"
(Stephanie Bishop - The Other Side of The World)
Há pouco eu estava na academia, correndo e suando na esteira
enquanto olhava as notícias na tela da TV que fica bem na minha frente. O
destaque dos telejornais todos era a situação dos refugiados da Síria que
tentam asilo na Europa, tendo a Hungria como porta de entrada. A cena em
looping exibida pelo canal 7 aqui da Austrália mostrava uma mulher síria
agarrada a um bebê, jogada sobre os trilhos de trem em Budapeste enquanto
um compatriota, que eu imagino ser seu marido, os abraçava na tentativa de
protegê-los da polícia húngara, que usava da força bruta para afastá-los dali e
impedi-los de entrar no trem. Aquela cena, mais do que a cena do menino morto
na beira da praia turca, me chocou profundamente. Enquanto eu corria e suava,
eu chorava. E tive que abandonar o treino no meio por não conseguir suportar o
horror daquelas imagens e daquela situação porque naquele momento constatei com
plena certeza uma coisa que já sabia: eu também sou uma refugiada.
Aquela mulher desesperada e jogada nos trilhos do trem
agarrada ao seu filho, deixou o seu país porque lá não há mais maneiras de
viver dignamente, não há perspectiva, não há oportunidades. Aquela mulher
síria, assim como muitas outras e muitos outros, teve que deixar a sua pátria, suas
raízes, sua família, seus amigos, suas coisas pra trás por não acreditar mais
num futuro possível no lugar onde passou a vida. Exatamente como eu e como
outras tantas pessoas que saem do Brasil por desacreditarem e perderem
totalmente as esperanças de um dia poder ter qualidade de vida por lá. E daqui
de longe, vivendo como imigrante e de certa forma, refugiada, eu digo: é
triste, muito triste ter que deixar nosso país por causa disso. Pra mim era
desesperador não enxergar nenhum tipo de promessa de dias melhores, fosse no
trabalho ou fora dele. Se eu fosse demitida da empresa onde trabalhava,
dificilmente conseguiria me recolocar no mercado. E mesmo dentro da empresa não havia expectativa ou chance
alguma de crescimento, pelo contrário, cada vez mais o quadro de funcionários
encolhia. Na vida fora da empresa não havia tranquilidade ou segurança. Saía de
casa e nunca sabia se ia voltar, jamais ficava tranquila quando estacionava meu
carro na rua e vivia em constante tensão. E essa é também uma forma de viver em
estado de guerra.
Por isso a imagem daquela mulher síria nos trilhos me abalou
tanto ontem, porque guardadas as devidas proporções, eu vi nos olhos dela um
desespero que também vive nos meus olhos. O desespero de saber que é tarde
demais pra voltar pro meu país e não ter certeza alguma de que vou poder ficar
aqui onde vivo agora. O sofrimento por ter deixado todos e tudo pra trás à mercê
da própria sorte sem poder fazer nada pra protegê-los daquele ambiente hostil. Ao
mesmo tempo, a fé em si mesmo pra seguir adiante. A superação de cada
dificuldade, o encontro com pessoas-anjo e a certeza de que no final, tudo vai
dar certo. Pra mim e pra mulher da Síria.
4 comentários
hoje eu não tenho o q comentar..
ResponderExcluirevito ler o jornal daqui ou do brasil, pq so consigo pensar em qm esta la e q não tem outra escolha... e sim, tbm penso em mim aqui, não importa o tipo do visto adquirido as vezes acho q sempre seremos refugiados... pq nunca deixaremos d ser brasileiros :/
beijos
Desculpe-me mais aqui não cabe comparação (independente da vida que vc levou no Brazil). Você machuca mais com seu artigo do que aquelas imagens terríveis circulando na internet. Pense bem... Nesse EXATO momento em que falamos, centenas de pessoas estão em pequenos barcos, no meio do Mediterrâneo, com fome, com frio, com medo, agarrados aos seus filhos, sem saber se vão chegar ao destino. Eles sim não tinham escolha! Temos que ter cuidado com que falamos mesmo que isso seja nossa opinião, as pessoas podem ter a impressão que só estamos falando do assunto porque é trend or fashion.
ResponderExcluirOi Antonio,
ExcluirEntendo seu posicionamento.
Mas no meu ponto de vista é só um paralelo do contexto do blog com a pauta do que estava acontecendo no mundo e não uma comparação ao pé da letra.
No fundo todos nós somos refugiados, mas em proporções bem diferentes.
Rezemos e façamos a nossa parte para um mundo cada vez melhor.
Amo este blog :)
Isso é um absurdo. Totalmente sem noção. Não existe comparação aqui. Sério. Uma vergonha.
ResponderExcluir