Virando a Própria Mesa - parte 11: Tempo de demissão
As despedidas
iniciaram hoje. Depois de 7 anos, chegou o momento de me desvincular do
trabalho e de dizer tchau pra muita gente que me acompanhou durante todo esse
tempo. Alguns poucos que transcenderam o coleguismo e acabaram virando grandes
e bons amigos, certamente irão me fazer muita falta daqui pra frente.
Foram 7
anos em que quase todos os dias cruzei a ponte do Guaíba pra chegar até o
escritório. Lembro como se fosse ontem do meu primeiro dia de trabalho na
gigante multinacional de computadores: o prédio enorme lotado de gente que falava um dialeto próprio,
pessoas que levavam notebooks pras reuniões ao invés de cadernos ou blocos de
anotações. Todo mundo comia junto no refeitório. Ninguém xingava ou ofendia
ninguém, todo mundo se respeitava. Os horários eram respeitados e poucos eram
os que trabalhavam até mais tarde e aqueles que o faziam muitas vezes eram
repreendidos pelos gerentes. A política da empresa era muito clara em relação
ao work life balance, completamente oposta à política das agências de
propaganda de onde eu vinha, onde o bonito era virar a noite e a galera que
entrava a madrugada no escritório ostentava um sorrisinho cretino no canto da
boca.
A Dell foi
a maior escola de administração e marketing que pude frequentar não só pelo seu
jeito muito próprio de gerir o business, mas também pelos profissionais que
trabalham lá. Tive grandes mestres, excelentes professores que foram desde
estagiários de 20 e poucos anos, até executivos experientes com mais de 45. A maioria
deles sempre dispostos a ajudar, a ensinar, a compartilhar conhecimento.
Aprendi a
ser profissional de verdade na Dell. Fui desafiada, me desafiei, entendi os
meandros e as politicagens de um ambiente corporativo e depois de muito tempo,
consegui jogar o jogo. Tive excelentes gerentes e alguns que honestamente, não
sei como chegaram ao posto. Algo normal em qualquer empresa seja ela de
pequeno, médio ou grande porte.
E num país
onde a corrupção é prática comum de mercado, é reconfortante saber que
trabalhei por 7 anos na empresa eleita como a mais ética do mundo. E isso não é
apenas release pra imprensa, é fato. Na Dell muitas coisas são toleradas, menos
a falta de ética, transparência, honestidade e integridade não só nas
negociações, mas também nas relações. Saber que existem empresas assim num mar
onde a maioria chafurda na lama de tanta sujeira e trambique, mostra um ponto
luminoso no fim do túnel. Ainda existe esperança.
Segunda-feira
que vem amanhecerei desempregada, sem a obrigação de acordar cedo, sem o
notebook me fazendo companhia no café da manhã, sem o Outlook lotado de emails
pra responder, sem as intermináveis calls pra atender. Vai ser estranho, mas
não vai ser triste. Porque isso também faz parte do meu plano.
1 comentários
Vamos tomar um chopp pra comemorar seu desemprego, então! :)
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