Virando a Própria Mesa – parte 10: Me dê motivos pra ir embora
Engana-se
quem pensa que estou deixando o Brasil pra ir morar na Austrália porque estou
descontente com a situação caótica, lamentável e irreversível do meu país. Não
é por conta das roubalheiras e das impunidades que vou embora, apesar de não
conseguir vislumbrar um futuro digno por essas bandas.
Tampouco minha
vida aqui é ruim ou estou infeliz. Não é nada disso. Minha vida nunca foi tão
boa e eu nunca estive tão bem comigo mesma, tão plena, tão segura. E é
justamente por estar me sentindo assim que decidi que era hora me proporcionar
uma experiência completamente diferente. Não deixaria a minha zona de conforto
onde tenho minha família e meus amigos bem pertinho, se estivesse deprimida.
Não fugiria pra outro país se quisesse curar uma dor de um amor mal acabado. Não
juntaria as minhas tralhas todas, não deixaria o trabalho, o conforto da minha
casa própria e todas as certezas e seguranças que tenho pra tentar escapar de
algo que me incomoda por aqui. Minha mãe sempre me disse que a gente pode
viajar pra lua, mas que levaremos sempre aquela bagagem invisível que temos
dentro de nós chamada sentimento. Posso ir pra Austrália, pra China, pro
deserto do Saara, mas minha cabeça e tudo o que há dentro dela de bom e de ruim
irá me acompanhar. Por isso acho importante estar muito bem comigo mesma pra
fazer toda essa mudança, porque o fato de fincar a bandeira em outro país e
começar uma vida do zero, por si só ja será difícil demais e se eu estiver
infeliz ou querendo fugir de alguma coisa ruim, muito provavelmente não darei
conta de me estabelecer e viver como eu quero.
Decidi
viver em outro país porque tenho aspectos da minha natureza e da minha
personalidade que preciso mudar, preciso melhorar. Sei direitinho o que é e
acho que somente estando sozinha num lugar estranho, vivendo numa cultura
diferente, passando perrengues que só que mora no exterior passa, é que vou
conseguir aparar essas minhas próprias arestas pra me transformar naquilo que
acho que é o melhor de mim.
Quero
vivenciar sentimentos que nunca tive,quero saber até onde posso ir nos limites
de mim mesma, quero aprender a ter saudade, quero chorar de doer o peito lendo
um email e sentar na beira do mar pra lembrar o que me levou até ali quando o
desespero e a vontade de percorrer o caminho de volta me invadir. Quero poder
me desafiar um pouquinho a cada dia e comemorar cada pequeno passo que eu der
rumo a uma grande realização final. Quero enfrentar meus medos mais obscuros,
quero descobrir outros que nem sei que tenho. E mesmo assim quero aguentar no
osso e seguir firme no meu propósito de ficar por lá.
1 comentários
Vai, Menina!!
ResponderExcluirE, olha, por mais impaciente que eu fique com esse povo que sai do país por conta da roubalheira (que sempre existiu, então não sei por que esse pessoal tá indo embora agora, aliás, sei, sim), tenho que admitir que a violência por aqui não dá mais e que quem anima de tentar a vida lá fora com raça tem mais é que ir mesmo.
No entanto, fico muito feliz que seus motivos sejam tão mais belos e positivos, haha! :)