A síndrome do ponto final no dia do sexo
Antes,um
prólogo: Esta crônica foi escrita na noite do dia do sexo, 06 de setembro, em
algum lugar entre Camaquã (a cidade mais sexy do mundo) e Pelotas (a mais gay)
na mesa de um paradouro de beira de estrada. O que eu estava fazendo nesse
local desconhecido pelo Google maps? Bom, o ônibus em que eu viajava teve o
pneu furado no meio do caminho, o que obrigou o motorista a dirigir até um
local seguro pra que um novo veículo chegasse pra nos buscar. Eis que me encontro
então sentada à mesa de um misto de restaurante, lancheria e loja de objetos de
gosto muito duvidoso, esperando o tal novo ônibus vir nos resgatar. Enquanto
isso, conversava com um amigo pelo chat do Facebook, contei da minha situação e
ele me sugeriu que aproveitasse o tédio momentâneo escrevesse os meus “causos”.
Por sorte estava com o notebook na
mochila e resolvi aceitar a ideia dele. Foi então que surgiu essa crônica que
você vai ler à seguir.
Meu
problema enquanto aspirante à escritora de quinta categoria, não é o branco
inicial que dá normalmente em quem senta pra rabiscar algumas linhas. Minha
fobia não é em relação ao começo porque geralmente tenho o texto pronto na
cabeça quando me vejo em frente ao computador com a missão pessoal de escrever
algo que preste. Quando abro o Word e o documento vazio se apresenta, o
constante piscar do cursor no canto esquerdo superior da página não me
amedronta. Aliás, quase nem consigo dar tempo pro tracinho preto se exibir
muito porque já saio dedilhando as palavras tal qual uma metralhadora de um soldado
do exército americano apontada na cara de algum terrorista palestino. Sou muito
rápida no gatilho e no teclado também.
Meu pavor
recai sobre como finalizar um texto, seja ele uma crônica com a minha opinião
sobre alguma coisa ou um conto sobre qualquer caso real que tenha escutado por
aí de uma fonte. O fim é o problema. É a
minha síndrome do pânico literária, a minha fobia textual, o meu medo maior.
Porque o desfecho de uma história tem que ser apoteótico, tem que combinar com
o meio dela onde ja se conseguiu enlaçar o leitor. É mais ou menos como uma
transa boa: começam as preliminares com uma luz mais baixa, a trilha sonora
certa e vai-se despindo a vítima com delicadeza ou com violência, mas isso depende
de gosto, momento e grau de intimidade. Depois das roupas atiradas pelo
caminho, é hora de materializar na carne aquilo tudo que até então está à
espera na imaginação. É hora de deitar na cama ou no chão da cozinha, misturar
fluídos, sentir gostos até então inéditos (ou não), arrepiar a pele e se
preparar pra chegar ao céu naquilo que se convencionou chamar de gozo. E essa
fração de segundos onde o mundo incrivelmente silencia, por obrigação tem que
ser espetacular, inesquecível, tal qual um show de fogos de artifício na virada
do ano em Copacabana. Se não for assim, será uma trepada única e sem chance de
acontecer novamente.
Feita a
analogia entre uma boa trepada e um texto de qualidade, volto ao tema central
sobre o fim. Mas, pensando bem, como dizem que hoje é o dia do sexo, acho que
vou deixar minha busca incansável pelo final perfeito do meu texto pra tentar
achar um final que valha à pena pra minha noite.
Fui. Fim.
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