As mentiras que eles contam e que elas fingem que acreditam: um conto de sábado à noite
Botou seus olhos
nela assim que pisou no bar. Encarou. Ela sustentou o olhar. Meia dúzia de
cervejas depois e foi até a mesa que ela dividia com um grupo de amigas. Sentou,
puxou papo, se curtiram. Dali pro apartamento dele foi questão de minutos. Ela,
avulsa, queria dar. Ele, às vésperas do casamento, queria comer. E ela sabia
disso. Que tinha pedido de joelhos a mão da namorada de anos e que subiriam ao
altar pra consumar a união em breve.
Do elevador
até o sofá da casa foi um pulo. Fast food. Mais rápido que o McDonald’s. “Filho
da puta”, pensava ela enquanto tirava sua camiseta preta de banda de rock. A energia
acumulada que pulsava dentro dela se equilibrou tão logo terminaram de transar.
Foi bom.
“Tua
namorada ta onde?”, perguntou. “Não sei. A gente não ta junto. Na verdade, a
gente briga e volta”, ele disse. “Cretino”, pensou. “Que grande mentira!”. Se olharam com vontade. O calor
aquele das horas de tesão tomou conta dos seus corpos outra vez. Transaram de
novo. “Safada”, dizia ele enquanto puxava seu cabelo com força. “Hahahahahahahaha!!!
Safada, eu? Não, meu amor. O safado dessa história é tu que tem noiva e ta
aqui, trepado em cima de mim tal qual um leão faminto em cima da carne morta de
um filhote de antílope qualquer”, pensou ela.
“Tem Facebook?”, perguntou ele. “Tenho”, ela
respondeu. “Quero te ver de novo e vou te achar porque temos amigos em comum”. Por
dentro ela riu e queria muito soltar aquela gargalhada entalada na cara dele.
Segurou. “Pra que tudo isso? Tu não tem noiva, não vai casar com ela daqui a
pouco? Quer me ver de novo por que? Pra continuar a canalhice?”, foi o que ela
pensou. Mas apenas respondeu “ainda bem que ja tenho 30 anos e não me iludo
mais com essas coisas.” “Obrigada pelas
mentiras. E pela noite”.
Bateu a
porta, chamou o elevador e foi embora sozinha e satisfeita.
0 comentários