E se eu não quiser ser mãe?
Gosto muito da Mariana Kallil e da maneira como ela escreve
no blog que tem. Acho ela lúcida, engraçada, sensata. E hoje ela escreveu sobre o não desejo de ser mãe do qual eu partilho a opinião 100%.
Na minha concepção, um filho é uma consequência boa de um
relacionamento saudável, maduro, estável. De forma alguma sou contra a produção
independente, mas jamais me vi nesse papel de mãe solteira porque eu sei o
trabalho e a responsabilidade que é criar uma criança. Dos 16 aos 19 anos,
acredite se quiser, fui professora de maternal e cuidei por muito tempo de
bebês de 2 a 3 anos de idade que embora não fossem meus filhos, passavam mais
tempo comigo do que com os próprios pais. Então acho que tenho um pouco de
propriedade pra falar sobre o assunto.
Como disse Elizabeth Gilbert no seu best seller Comer,
Rezar, Amar, ter um filho é como fazer uma tatuagem na cara. É eterno, é pra
sempre, não tem volta. E há de se pensar nisso quando se toma essa decisão
porque não dá pra enjoar do brinquedinho e querer largá-lo num canto depois. Um
filho exige dedicação, abdicação, altruísmo. E exige estrutura emocional do pai
e da mãe, exige tempo e muito dinheiro.
De todas as relações sérias que tive, pensei em filhos em
apenas uma delas porque o amor que eu sentia pela pessoa era tão grande que me
faria abrir mão da minha tão prezada liberdade pra ver nascer dali um outro
serzinho. Ele nunca quis e por outras razões a relação se esgotou. Mesmo tendo
pensado em ser mãe por uma única vez, confesso que o instinto nunca aflorou de
verdade em mim e nunca levei tanto a sério esse desejo que se mostrou
circunstancial. Sou independente, um
pouco egoísta, gosto da minha liberdade de ir e vir quando bem entender e um filho
mudaria isso pra sempre. Vou ter um filho pra que então se eu penso assim? Pra satisfazer
o desejo alheio? Pra cumprir a minha “missão” de mulher? Não. Nunca. Melhor então não ter.
Mas acho lindo quem tem filhos, gosto de ver a dedicação das
mães para com a sua prole, gosto de crianças e respeito quem escolheu para a
vida a opção da maternidade. Porém, não sinto o mesmo respeito quando digo que
minha opção é não ter filhos. Os olhares são sempre incrédulos como se eu
tivesse dizendo um grande absurdo do qual eu vou com certeza me arrepender logo
ali. Como se ter filhos fosse a garantia de uma vida plena e feliz, e dizendo
que não quero estou automaticamente assinando a sentença eterna da
infelicidade.
Por que? Qual é o problema se eu de fato optar por não ser
mãe? Isso faz de mim uma pessoa pior? Isso me diminui, me tira o senso de
responsabilidade, a capacidade de amar e de assumir compromissos? O fato de não
querer procriar é o atestado eterno para a minha infelicidade e para a minha
velhice solitária? Vejo que o fato de não ter casado oficialmente e não ter
tido bebês compromete até o meu desempenho profissional e já cheguei a pensar
seriamente em comprar uma aliança dourada pra usar na mão esquerda e mentir descaradamente
que estou tentando engravidar pra ver se ganho mais créditos e menos olhares de espanto. Sou tratada como
um ser de outro planeta quando emito a minha opinião e reforço a minha escolha
e ouço sempre que um dia eu ainda vou mudar de ideia.
Pode ser sim que eu mude de ideia e queira ter um filho. Pode
ser mesmo que eu repense essa escolha que estou fazendo quando encontrar um
parceiro que eu ame demais e que queira embarcar nessa viagem sem volta comigo.
Mas enquanto esse dia não chega, só gostaria que a minha escolha fosse
respeitada, assim como respeito a escolha de quem tem ou quer ter filhos. E para quem continua achando um crime a minha decisão, sugiro que leia um por um dos mais de 100 comentários sobre o assunto no blog da Mariana Kallil.
I'm not alone
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