Você tem fome de que?
Tenho fome,
embora tenha acabado de voltar do almoço. Mas essa fome não passa e não consigo
comer. Não gosto de comer. Aqui não gosto de comer porque a comida é ruim e nos
outros lugares porque a comida é igualmente ruim ou porque tenho preguiça de
cozinhar só pra mim ou simplesmente porque meu organismo não aceita. Como pouco,
sempre comi pouco.
Não sou o
tipo de pessoa que viaja pra comer e que não vai à um país sem anter saber seu
prato típico, seus hábitos alimentares e sem uma extensa lista de indicações de
bons restaurantes. Não faço turismo gastronômico e ja passei 20 dias na Europa
comendo só em McDonald’s. Você não faz ideia de como o cardápio varia de um
país pro outro e, acredite se quiser, se come até camarão na lanchonete do
palhaço.
Gosto de
cozinhar pra outras pessoas, mas nunca só pra mim mesma. Daí me dá uma preguiça
violenta até pra fritar um ovo e acabo comendo papinha de bebê quando chego em
casa à noite. São nutritivas, deliciosas e o preparo não pode ser mais simples: 30 a 40 segundos no
microondas e tudo o que se suja é uma colher. Melhor impossível. Deveriam inventar uma versão pra adultos,
aposto que ia ser sucesso de vendas.
Domingo tava
assistindo ao programa de culinária do Olivier Anquier e me chamou a atenção a
maneira como ele se maravilhava com a comida enquanto preparava e degustava. Duvido
que ele coma uma mulher com a quantidade de desejo e excitação no olhar com que
ele comeu um prato com lagostas, camarões e um peixe. Duvido. Acho lindo ver
uma pessoa comer com vontade, com gosto, como se não houvesse amanhã. Queria comer
assim. Queria salivar por uma comida, queria ter uma lista de pratos e
restaurantes preferidos. Não tenho e nessa altura da vida não acho que terei.
Churrasco? Detesto.
Peixe? Nem pensar. Massa? Depende. Junk food? Só se for McDonald’s.
Tenho fome.
Por isso não consigo terminar esse texto com um final digno. E lamba os beiços.
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