Ódio ao cabelo
Gal Costa,
a musa da MPB dos anos 70, cantava num trecho da sua famosa música “Cabelo”,
“quem pensa que cabelo não sente”.
O meu cabelo inspirou a minha música
O meu
cabelo sente alguma coisa, tenho certeza. E deve ser algum sentimento muito
ruim porque simplesmente ele vive rebelde, arrepiado e armado como se fosse um
soldado indo pra guerra. No caso a batalha diária que ele trava é comigo mesma
na frente de todos os espelhos que encontro pelo meu caminho. Andar com ele
solto, malemolente como num comercial de shampoo, nem pensar. O volume é tanto
que ele fica estaqueado, duro, sem movimento algum. Daí eu faço um coque
podrinho (odeio de morte essa expressão) e os fios novos que insistem em nascer
se arrepiam deixando Cebolinha com inveja de mim. Resolvo então usar meu
arsenal de borrachinhas pra prendê-lo num rabo de cavalo. Sabendo que vai
ficar amarrado, meu cabelo esperneia, bate pé e consegue que alguns fios fujam
do elástico e fiquem soltos, avacalhando completamente o meu penteado.
Mas eu sou
brasileira, não desisto nunca e sigo lutando. Abro a caixa de grampos e tento prender
um pedaço da franja, que seria uma espécie de tropa de elite da minha cabeça: a
parte mais difícil de domar. Perco de novo. Meu fio é fino e não consigo pegar
todo o chumaço, mesmo usando mais de 2 grampinhos. Tento novamente com um
grampo maior e mais grosso, daí meu cabelo se vinga exibindo sem pudor os fios
brancos que começaram a nascer. Ja tentei todas as alternativas pra vencer essa
guerra: deixar secar ao natural, usar secador, chapinha, tiara, lenço. Nada adianta
além das avançadas técnicas de alisamento que eu resisto um pouco a usar.
Não sou ninguém sem vocês!
Ja experimentei
todas as marcas de shampoo, desde aquelas que custam mais de R$ 100,00 o vidro
até aquelas bem bagaceiras que a gente encontra nas prateleiras do
supermercado. Também ja tentei leave ins, cremes de pentear, máscaras de
hidratação e outros produtos “milagrosos” que prometem – mas não cumprem –
cabelos domados e volume controlado. Nada adiantou e minha juba continua igual
ou maior do que a de um leão africano.
Gostou do meu penteado novo?
Sabe qual é o meu sonho? É poder fazer uma colinha que nem a dessas moças onde nenhum fio fique fora do lugar. Tô pedindo muito?? Não!
Pois de
novo cansei dessa guerra e resolvi entregar as armas pra não sofrer e nem
perder mais tempo de vida brigando com meus cabelos todos os dias de manhã, de
tarde e de noite. Amanhã vou me entregar à blindagem e vou virar lisa. Lisa e
feliz, lisa e vitoriosa, lisa e mais inteligente, poderosa, bem sucedida. Porque
o mundo, caso você não saiba, pertence aos lisos.
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