Fui
Se me fosse
dado o direito de escolher o dia da minha própria morte, escolheria a sexta-feira-feira
pra empacotar, pra embarcar na viagem sem volta rumo à terra dos pés juntos,
pra dormir eternamente sem ter o maldito despertador pra interromper na manhã
seguinte.
Gostaria de
morrer numa sexta-feira de primavera ou verão. Morrer já é triste, morrer no
inverno é deprimente demais. Um cemitério é um lugar tradicionalmente gélido
nas altas temperaturas, imagine então no auge do frio. Não. Não quero morrer no
inverno. Aliás, não quero nada no inverno: nascer, casar, parir ou morrer. O
inverno pra mim é que poderia morrer. Enfim, voltando, gostaria de poder morrer
numa sexta-feira de primavera ou verão, num final de tarde ensolarado, com o
sol alaranjado se pondo no horizonte, com a brisa leve soprando lá fora, com o
canto dos sabiás ao fundo, com a algazarra de todos rumo ao happy hour, ao
chopp gelado, à caminho da praia, brindando ao final de semana. Gostaria de
morrer no exato instante em que o garçom enche com prazer o primeiro copo de
chopp, que transborda sua espuma branca pelas extremidades. Gostaria de morrer
no exato instante em que o primeiro guarda-sol se abre à beira do mar.
Gostaria de
morrer sorrindo, com os poucos raios de sol do final da tarde batendo no rosto
fazendo com que tenha que apertar os olhos pra poder enxergar melhor. Pra
enxergar os últimos segundos da minha própria vida escorrerem por entre os
dedos do tempo. Mas enxergar pra que, se logo logo eu vou partir e não vou
poder levar nem na memória esses últimos instantes?
Se me fosse
dado o direito de decidir sobre a minha própria morte, gostaria que ela fosse
breve, rápida, certeira, direta ao ponto. Um piscar de olhos e pronto: morri.
Gostaria de
morrer nos braços do sol e acordar aconchegada nas estrelas. Assim morreria
feliz.
0 comentários