Viver com fé ou Lua de São Jorge
Nunca fui
uma pessoa de fé, religiosa, espiritualizada. Um pouco porque nunca acreditei
veemente na existência de um ser superior responsável pela criação do mundo e
pelo destino dos seus habitantes. Outro pouco porque nunca simpatizei com
religião nenhuma, nunca me encontrei em nenhuma delas. Fui batizada na igreja
católica porque meus pais assim decidiram, mas não fiz primeira comunhão, nem
crisma e nem nada dessas coisas. Nunca gostei dessa idéia de que eu sou uma
pecadora e que deveria me confessar pra um padre, nunca concordei com isso e
por esta razão nunca fui à favor da igreja católica, embora tenha frequentado
num determinado momento da minha vida em que eu precisava muito acreditar em
algo maior do que a razão.
De novo me
encontro numa fase assim em que cuidar do espírito tem sido tão fundamental
quando cuidar da mente e do corpo. E fui procurar uma filosofia, uma religião,
um lugar onde pudesse aquietar a mente e me conectar comigo mesma. Não
encontrei só um, mas três lugares diferentes que eu frequento quase todas as
quintas-feiras e vou contar aqui a história que me levou à um deles.
Toda vez
que eu passava pela casa branca da Vicente da Fontoura e via aquela fila enorme
na porta, me perguntava do que se tratava e ficava curiosa pra saber o que
aquele monte de gente fazia ali. Descobri, através de uma grande e querida
amiga, que naquele lugar funcionava a Fraternidade Espiritualista Cavaleiros de
São Jorge e que ela costumava frequentar quando morava em Porto Alegre. Numa
quinta-feira qualquer há mais ou menos 2 meses, tomada de uma angústia dilacerante por uma
série de coisas, mandei um email pra esssa amiga perguntando sobre o tal centro
espiritualista. Meu medo era de que no lugar acontecessem rituais de umbanda,
coisas com pomba gira, pais de santo e assemelhados que eu respeito, mas que
não curto. À seguir a resposta que ela me mandou por email: “...tu não tem que ter medo , não la nesse lugar . Se
fosse num centro mais "praticante" , digamos assim , tu poderia
assustar , mas lá tu não vê nem os mediuns encorporarem , tu chega la tem umas
orações , umas musicas calminhas , é bem tranquilo mesmo , não tem tambor
batendo nem galinha morrendo …vai por mim que ja fui a cada lugar …e la tu tá
no lugar certo, nada de ruim pode te acontecer lá. Aproveita quando tu estiver
lá e pensa positivo , pede pra todos as entidades te trazerem clareza ,
acredita no lugar onde tu ta o nas energias que estão concentradas ali . Ali é
a casa de Ogum , o guerreiro São Jorge , nenhuma outro orixá é mais guerreiro
que ele , tu ta indo atrás da coragem dele pra resolver a tua vida e ele vai te
proteger e te guiar . Os pretos velhos são as entidades mais humildes da
umbanda , então chega la com humildade na frente de um deles e diz que tu
precisa de ajuda , eles vão saber te ajudar. Se estivesse ai com certeza te
acompanhava. Quando eu tenho um problemão
pra resolver eu sempre faço um pedido pra Ogum , peço pra ele ir na minha
frente , com as suas armas e seu dragão , botando todo mundo pra correr … olha
, ele nunca me deixou na mão…”
Nesse dia,
saí do trabalho com o peito apertadíssimo, chorando, triste, sem nenhuma
esperança e fiquei pensando em ir no Cavaleiros de São Jorge como minha amiga
tinha recomendado, mas estava em dúvida. Enquanto dirigia e chorava, pensava:
vou ou não vou, vou ou não vou? No meio do caminho, presa num dos tantos
engarrafamentos de Porto Alegre de final de tarde, estava “zapeando” no rádio
quando de repente uma das estações estava tocando a música Lua de São Jorge, do
Caetano Veloso. Gelei e pensei: isso é um sinal. A música foi cortada na metade
porque era hora de começar a Voz do Brasil e então, desliguei o rádio. Fiz
isso, virei pro lado e uma imagem enorme de São Jorge colada num carro que
estava ao lado do meu me saltou aos olhos. Gelei de novo e pensei: isso é um
chamado, eu preciso ir até o Cavaleiros. E fui. O que aconteceu ali é pessoal
demais pra ser dividido aqui, mas posso dizer que foi a melhor e mais incrível
experiência espiritual que eu tive na vida. De fato, São Jorge tava me chamando
porque todas as coisas que eu ouvi naquela noite naquele centro espiritualista,
eram exatamente as coisas que eu precisava ouvir naquele momento. Desde então,
virei fã de São Jorge (tenho dúvidas quanto ao uso da palavra "devota" e prefiro não usá-la) e peço sempre que abra os meus caminhos quando eles parecem bloqueados.
Salve Jorge!
1 comentários
Umbanda não tem galinha morrendo, não confunda!
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